Fotos: Robson Santos
Com a iniciativa, houve uma mudança na rotina das cidades com impactos ambientais positivos
Uma verdadeira revolução ecológica está acontecendo em Minas Gerais, por meio da educação ambiental. Ao levar a sustentabilidade para as salas de aula das escolas municipais, o programa Jovens Mineiros Sustentáveis (JMS) está mudando a relação dos mineiros com o meio ambiente. Em dois anos de programa, 104 municípios têm sido impactados por essas mudanças, que atravessam as mãos de mais de 6 mil crianças e são levadas às famílias e às autoridades. Na lista de impactos estão as reduções nas contas de luz e de água, um maior interesse em coletas seletivas e em plantios, e até a mobilização por um parque municipal.
Lançado em 2022 pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o programa divulgou na última terça-feira (31), o 3º edital para atender à demanda de mais cidades interessadas em participar dessa iniciativa. A partir de 2024, mais 40 municípios vão passar a ser participantes do JMS. Serão mais 80 escolas municipais que passarão a integrar o programa, com uma média total de 3,2 mil estudantes do 5º ano do ensino fundamental. Atualmente, são 6.541 alunos de 185 escolas municipais de Minas.
Entre os atuais participantes, a percepção dos alunos, educadores e autoridades é de que, com o programa, a visão sobre boas práticas ambientais ampliou e ultrapassou os muros das escolas. Isso porque, segundo os estudantes, ficou mais fácil aprender sobre o assunto, ao aliar teoria e prática, conforme propõe o JMS. As crianças vão a campo aprender o que ensinam as apostilas. Assim, foram feitas excursões em minas, nascentes, em associações de catadores de materiais recicláveis, entre outros lugares.
“Eu me sinto um cidadão de verdade, porque estou aprendendo a ser alguém melhor no futuro”, comenta Gabriel Pereira Santos, de 10 anos, da Escola Municipal Severo Ribeiro, da cidade de Itapecerica. Ele, que é um entusiasta do programa, criou uma música, em ritmo de repente nordestino, que aborda a conscientização ambiental trazida pelo JMS. Nas estrofes, ele diz que “esse programa nossa vida engrandece” e que a educação humanitária e consumo consciente são uma das formas mais inteligente de se viver.
Além da música se tornar sucesso na escola, Gabriel foi além das batidas e levou para casa o que aprendeu com o programa. “Ele ficou mais consciente sobre os nossos hábitos e nos ensinou muita coisa. Agora, aqui em casa, separamos o lixo para a coleta seletiva, temos uma maior preocupação com o desperdício de água e de luz”, comenta Gabriela Franciny Pereira, mãe de Gabriel.
Além de levar para casa novos hábitos, Luiz Gustavo Ribeiro de Souza, de 10 anos, da Escola Municipal Professora Maria da Conceição Dias Ferreira Andrade, em Igarapé, destaca ter uma maior esperança com o futuro. “Meu carinho pelo meio ambiente só aumentou. Antigamente, eu me via como um trabalhador, agora eu me vejo como uma pessoa que vai se dar bem na vida. Isso porque o programa nos ensina várias coisas, como os cuidados com os patrimônios, animais, gasto de água e de energia”.
Na escola de Luiz, com essa conscientização, até a conta de água reduziu. “Passamos a fazer economia de água e de luz, e os meninos acompanham com interesse esse momento. Eles repassam o que aprendem para outros alunos e suas famílias, assim, envolvemos a escola inteira. Acredito que a cobrança do programa, com data e prazo, faz com que as coisas aconteçam”, avalia a diretora da escola Municipal Professora Maria da Conceição Dias Ferreira Andrade, Amélia Henriques Silva Lemes.
Mudanças no ensino
Com uma metodologia que alia teoria e prática, o JMS capacita educadores para levar a temática da sustentabilidade para as salas de aula. Para isso, é feita uma parceria entre a Semad e as prefeituras, na qual a secretaria disponibiliza material didático desenvolvido por servidores da pasta e baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, divididos em tópicos, o JMS propõe atividades escolares de educação ambiental e humanitária, por meio das quais são trabalhados os temas de consumo consciente de água e energia, cidadania, gestão sustentável de resíduos sólidos, educação humanitária e mudanças climáticas.
As escolas participantes são acompanhadas de perto pela equipe da Semad que, além de grupos em WhatsApp para suporte a educadores, faz visitas às instituições de ensino para acompanhar o andamento do programa junto aos alunos e educadores. Ainda que o meio ambiente seja assunto abordado em sala de aula há algum tempo, professores observam que o assunto era limitado e pontual. Com o programa, esse monitoramento contínuo da Semad se tornou um impulsionador para as atividades, que passaram a integrar a grade curricular, envolvendo toda a comunidade escolar.
“O programa nos trouxe mais conhecimento. Os estudantes fizeram mais pesquisas, ficaram mais interessados e até fizeram grupos de mensagens para discutir as ações. Para mim, como professora, mudou a minha vida também. A Semad nos envia o material, mas temos que fazer pesquisas e correr atrás, ir a campo e olhar o ambiente que está ao redor da gente. Passei o que aprendi para os meus filhos e netos também”, afirma a professora Andréa Regina da Silva, da escola Municipal Professora Maria da Conceição Dias Ferreira Andrade.
O impacto também surpreendeu a professora Jussara Lobo, da escola Municipal Severo Ribeiro, de Itapecerica. “O projeto traz um olhar novo e muda a nossa rotina, uma vez que trabalhamos as atividades praticamente todos os dias. Com o programa, as atividades são mais concretas, os alunos passaram a ter uma participação muito mais ativa no processo de ensino e de aprendizagem. Eu também mudei minha postura, e as famílias que antes não faziam coleta seletiva passaram a fazer”, diz.
Impacto nas cidades
Autoridades municipais já começam a notar o impacto que o programa trouxe para as cidades, complementando as políticas públicas ambientais já desenvolvidas pelos municípios. Em Igarapé, o secretário de meio ambiente, Isaias de Barros Abreu, destaca essas mudanças. “Percebemos um aumento na procura de árvores para fazer plantio e no número de pessoas para participar das nossas oficinas de compostagem e de outros projetos ambientais”, diz.
Isaias ressalta que, ainda que o programa envolva uma quantidade restrita de alunos, eles se tornam multiplicadores, o que impacta a cidade como um todo. O prefeito de Igarapé, Arnaldo Chaves, enfatiza que a cidade abraçou o projeto Bosque do Amanhã, uma atividade extra promovida pelo JMS e lançada em setembro, em comemoração ao Dia Mundial da Árvore. Nela, o Governo de Minas desafiou os estudantes do programa a plantarem mudas em suas cidades, o que envolveu escolas, prefeituras e comunidades.
“O Bosque do Amanhã trouxe essa ideia e usamos em Igarapé uma área verde da prefeitura. Foi um plantio de 140 árvores em um minuto. O programa trouxe uma ideia diferente de como podemos trabalhar a conscientização por meio desses jovens, que irão levar essas ideias para dentro de casa”.
O projeto também inspirou a cidade de Itapecerica na criação do Parque Municipal Mina da Magnólia. “Valorizamos esse espaço, por meio do Bosque do Amanhã, e o transformamos em um parque ecológico. Isso se deve graças ao JMS e ao empenho de educadores e das crianças, que plantando e germinando estão cuidando da nossa natureza”, afirma o prefeito de Itapecerica, Wirley Rodrigues Reis.
História
O programa Jovens Mineiros Sustentáveis foi iniciado no ano de 2021 como o projeto piloto denominado “Educação Ambiental nas Escolas: Um Despertar para o Consumo Consciente” e foi executado em quatro municípios do estado: Campo Florido, Itapecerica, Nepomuceno e Paracatu. “A ideia foi criar um programa que tivesse uma metodologia estimulante para os alunos e também para os educadores, a fim de ter impactos em toda a comunidade”, conta a gestora ambiental Sophia Lins.
Segundo ela, após pesquisas e estudos, o programa foi desenvolvido por servidores da Semad, responsáveis pelo monitoramento do JMS. “Estamos felizes com o sucesso do programa e com a receptividade dos municípios. Na primeira edição, em 2022, eram 65 municípios. Este ano, são 104 e, agora, com o novo edital, esperamos mais 40 cidades”, diz.
A escola Municipal Severo Ribeiro, em Itapecerica, foi uma das que participou do projeto piloto e, conforme lembra a diretora Olga Rabelo, a conscientização ambiental foi ampliando ao longo das novas edições. “Em 2021, as famílias dos alunos participantes foram visitadas pelas autoridades municipais e foi observado o que tinha melhorado nas contas de luz e de água. Em 2022, as famílias estavam encantadas com os resultados. Em 2023, percebemos uma consciência ainda maior na visão dos alunos e dos familiares sobre desmatamentos, cuidados com o lixo e a reciclagem dentro da escola”, conta, destacando o entusiasmo dos professores com o projeto.
De acordo com a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Marília Melo, o objetivo do JMS está sendo alcançado. "Por meio do programa, estamos testemunhando uma transformação concreta na mentalidade das comunidades e nas práticas ambientais em Minas, o que traz esperança e entusiasmo para um futuro mais sustentável."
Premiação
No dia 7 de dezembro, será feito o evento de premiação das escolas mais empenhadas no programa em 2023. Com cerimônia realizada no Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR), em Belo Horizonte, o encontro deve reunir autoridades, educadores e alunos. As instituições de ensino em destaque receberão prêmios doados pela Governo de Minas.
Luciane Evans
Ascom/Sisema