A “Operação Bicho do Mato II”, realizada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), terminou, no último dia 25, com a apreensão de 880 animais, sendo 879 aves e um réptil, aplicação de R$ 901.828 em multas e 75 pessoas presas. Além dos animais, foram apreendidos, também, 436 gaiolas, seis viveiros, 126 alçapões, duas armas de fogo, 19 redes de pesca e 11 kg de peixes.
O objetivo da operação, que teve início no dia 19/10, foi coibir o tráfico de animais silvestres nas regiões do Norte e Nordeste do Estado. As fiscalizações ocorreram nos municípios de Águas Vermelhas, Almenara, Araçuaí, Cachoeira do Pajeú, Coronel Murta, Divisa Alegre, Itaobim, Jequitinhonha, Medina, Pedra Azul, Ponto dos Volantes, Rio do Prado, Rubim, Salinas e Vargem da Lapa.
A ação, planejada e coordenada pela Semad, contou com o apoio da Polícia Militar de Meio Ambiente, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e Secretaria de Estado de Fazenda (SEF).
De acordo com o chefe de Fiscalização da Fauna da Semad, Daniel Sampaio Colen, todos os animais apreendidos foram examinados pelos veterinários da Semad, que também faziam parte das equipes de fiscalização.
Crédito: Divulgação Semad
Jandaia-de-testa-vermelha - Traficantes perfuram os olhos de algumas aves com o intuito de parecerem mais mansas ou não vocalizarem constantemente
“Após examinarmos os animais, concluímos que 592 deles estavam saudáveis e fisicamente preparados para serem reintroduzidos na natureza. Eles então foram soltos em áreas que passaram por uma avaliação dos nossos técnicos, consideradas aptas para receberem os animais”, acrescentou.
Colen ressaltou, ainda, que entre os fatores levados em consideração para a escolha da área de soltura está a condição hídrica do local, uma vez que a água é fator preponderante para a sobrevivência dos animais.
Os 288 animais que foram considerados debilitados fisicamente foram encaminhados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres de Belo Horizonte (Cetas-BH), onde receberão os cuidados necessários para completa reabilitação.
O Canário da Terra foi uma das espécies encontradas em maior número pelos fiscais. De acordo com Colen, essas aves, ao contrário da maioria, que são adquiridas pela beleza do canto, são geralmente traficadas para rinhas.
O chefe da Fiscalização da Fauna destacou, também, que foi a primeira vez que equipes da Semad autuaram em flagrante pessoas pelo crime de adulteração e falsificação de anilhas para pássaros.
Crédito: Divulgação Semad
Trabalho de identificação de fraudes em anilhas de aves
“Os proprietários dessas anilhas foram encaminhados para penitenciária. Esse tipo de crime é inafiançável e tipificado como falsificação de selo público pelo artigo 296 do Código Penal”, concluiu.
Operações
Essa é a segunda grande operação de combate ao tráfico de animais silvestres realizada com a coordenação da Semad. “Desde 2011, a gestão da fauna vem sendo transferida do Governo Federal para os Estados, o que inclui a fiscalização do comércio irregular de espécies”, explica o superintendente de Fiscalização Ambiental Integrada da Semad, Heitor Soares Moreira.
Em 2014, a operação de fiscalização “Bicho do Mato I” apreendeu 724 pássaros e 675 gaiolas e aplicou R$788 mil em multas. O trabalho também foi realizado na região Nordeste do Estado entre os dias 24 e 29 de outubro em 10 municípios e envolveu ainda o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O tráfico de animais
Segundo a Organização Não Governamental (ONG) WWF-Brasil, há pesquisas que apontam que o comércio ilegal de animais movimenta cerca de 10 bilhões de dólares por ano em todo o mundo. Só o tráfico de drogas e armas é maior.
Ainda segundo a WWF, o Brasil possui um grande comércio interno de animais, que sustenta os traficantes que agem no país e servem como intermediários para os traficantes internacionais.
A principal rota do tráfico de animais silvestres no Brasil começa nas Regiões Norte e Nordeste, com a retirada de espécies da natureza, e segue até o grande mercado consumidor da fauna no país, a Região Sudeste.
De acordo com dados do Ibama, os Estados brasileiros onde ocorre a maior parte das capturas de animais são: Maranhão, Bahia, Ceará, Piauí e Mato Grosso. Já os Estados com o maior mercado consumidor são: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O Instituto aponta, também, que no Brasil, as aves são as mais comuns em apreensões de tráfico.
Um dois principais documentos sobre o tema já publicado no Brasil é o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, lançado pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), em 2002. O relatório aponta que 60% dos animais comercializados ilegalmente são para consumo interno, o chamado tráfico doméstico. Os outros 40% dos animais retirados da fauna brasileira seguem para destinos internacionais.
Os autores do relatório estimaram que todos os tipos de exploração ilegal de animais silvestres seriam responsáveis pela retirada de 38 milhões de animais da natureza brasileira, número que não inclui peixes ou insetos.
Janice Drumond
Ascom/Sisema