Como parte dos esforços do Governo de Minas para estabelecer estratégias para o combate ao aquecimento global um técnico da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) participa de pesquisas na Antártica para avaliar os efeitos das mudanças climáticas. Por meio de um Termo de Cooperação Técnica, assinado no fim de julho com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), o engenheiro agrônomo e técnico da gerência de Avaliações Ambientais e Mudanças Climáticas da Fundação, Roberto Machado Michel, desenvolve trabalho de campo na Antártica para avaliar a concentração de carbono no solo antártico como parte do "Projeto Criossolos".
O Termo de Cooperação viabiliza a participação da Feam na fase I do Projeto, denominada "Caracterização e Mapeamento da Camada Ativa e de Criossolos da Península Fildes, Ilha Rei George, no Cenário de Mudanças Climáticas". O Projeto tem como objetivo geral caracterizar e mapear os solos e ecossistemas terrestres da Antártica e como objetivo específico estudar o seqüestro de carbono e a dinâmica do permafrost (lençol freático congelado) nos solos da Antártica e sua relação com mudanças climáticas globais.
Segundo explica Roberto Machado, o permafrost é um lençol freático que está congelado desde a última era glacial (cerca de 20 mil anos atrás) e é uma importante fonte de carbono. Solos com permafrost cobrem aproximadamente 14% da área total do globo, contendo 30% do carbono orgânico total existente em solos.
"Os solos desempenham um papel essencial nos ecossistemas terrestres antárticos. Seu estudo possibilita a compreensão dos fatores intervenientes nas mudanças climáticas", observa.
"Estamos dando continuidade a um trabalho que vem sendo desenvolvido nos últimos cinco anos. Através da pesquisa do solo vamos acompanhar o ritmo em que está acontecendo o aquecimento global", acrescenta Machado. "Nesta etapa do Projeto, o experimento que estamos fazendo estima a emissão de CO² do solo em um período de quatro meses, buscando estimar os efeitos na matéria orgânica do solo no caso de um aquecimento no clima", explica.
De acordo com Machado a vantagem de pesquisar sobre clima no pólo sul é que na Antártica, por ser uma região mais sensível ao aquecimento, as mudanças climáticas acontecem de forma mais drástica do que em outros pontos do globo. "Enquanto o mundo teve nos últimos 20 anos um aquecimento médio de 0,5ºC a região teve um aumento de aproximadamente 2ºC", informa.
O presidente da Feam, José Cláudio Junqueira, esclarece que é dever do órgão ambiental fornecer informações qualificadas para a tomada de decisões na formulação de políticas públicas de redução de emissões de gases de efeitos estufa. "Essa parceria é mais uma ação com esse objetivo. Estamos engajados no debate sobre as mudanças climáticas e na identificação de oportunidades de investimentos nessa área, de forma a compatibilizar a desenvolvimento econômico com a preservação ambiental", declara.
Ano Polar Internacional
A pesquisa científica brasileira na Antártica faz parte das ações do 4º Ano Polar Internacional, programado para ocorrer entre março de 2007 e março de 2009. O Ano Polar é organizado pelo Conselho Internacional de União Científica em conjunto com a Organização Meteorológica Mundial (ICSU e WMO, siglas em inglês, respectivamente). O objetivo é desenvolver pesquisas científicas interdisciplinares voltadas para o conhecimento dos processos ambientais nos pólos, as conexões destas regiões com o resto do planeta, a biodiversidade, estado evolutivo e capacidade adaptativa dos organismos antárticos. Esse esforço envolve 63 nações e 227 projetos de alta qualidade científica com investigações laboratoriais até 2011.
Continente a ser desbravado
A Antártica, juntamente com o espaço e os fundos oceânicos, constituem as últimas grandes fronteiras ainda a serem conquistadas pelo homem. A Antártica é o mais frio, seco, alto, ventoso, remoto, desconhecido e preservado de todos os continentes. 90% do gelo do planeta está localizado no continente, que exerce influência significativa nos sistemas atmosféricos globais, particularmente no hemisfério sul.
A temperatura, maior no litoral e menor na região central, é bastante baixa: na época mais quente do ano, varia de 0°C a -40°C à medida que se distancia do litoral. No inverno, a média é de -18°C a -29°C na costa e de -68°C no interior. Essas condições ambientais inviabilizaram a Antártica para a ocupação humana, e, mesmo hoje, a presença do homem lá só é possível com o emprego de alta tecnologia e complexo apoio logístico.
Por ser um laboratório natural único, a Antártica tem importância científica incontestável e o conhecimento de suas características e dos fenômenos naturais lá ocorrentes pode esclarecer questões de importância regional como a viabilidade de exploração econômica sustentável dos recursos vivos marinhos ou de relevância global, a exemplo das mudanças climáticas, já que é um dos principais controladores do sistema climático global.
Inventário - No esforço do Governo de Minas em propor mecanismos de incorporação da dimensão climática no processo decisório, especialmente às políticas setoriais que se relacionem com emissões e seqüestro de gases de efeito estufa, a Fundação Estadual do Meio Ambiente assinou em dezembro de 2007 contrato técnico com a Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos - Coppetec, ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, para execução do Primeiro Inventário Estadual das Emissões de Gases de Efeito Estufa de Minas Gerais.
Tendo como base o ano de 2005, os estudos irão propor prognósticos para cenários de curto e médio prazos relativos às emissões de gases de efeito estufa (GEE). Juntamente com outros elementos de decisão, esses prognósticos irão subsidiar a proposição da Política Estadual de Mudanças Climáticas, em articulação com a Política Nacional de Mudanças Climáticas e outras políticas públicas correlatas. O estudo também servirá para estimular a adoção de práticas e tecnologias mitigadoras das emissões dos referidos gases.