Fotos: Semad/Divulgação
Polvilheiros conheceram detalhes do tratamento da manipueira e também do uso de resíduos para nutrição animal
Servidores da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e técnicos do Instituto Federal do Sul de Minas fizeram, na última sexta-feira (11/12), um “dia de campo” com produtores de polvilho das cidades de Conceição dos Ouros e Cachoeira de Minas, no Sul do Estado. O trabalho é uma extensão dos workshops orientativos realizados em setembro deste ano, dentro do programa da Fiscalização Ambiental Preventiva na Agricultura (Fapa). O objetivo do dia de campo é mostrar, na prática, soluções e padrões que possam contribuir para uma produção mais sustentável e que não gere degradação ao meio ambiente.
Entre os temas apresentados aos produtores, destaque para uma nova alternativa de tratamento da manipueira, que é o líquido extraído da mandioca quando ela é processada para a fabricação do polvilho. O produto pode gerar danos ambientais aos recursos hídricos e ao solo quando descartado de forma inadequada ou sem tratamento. A nova possibilidade de tratamento, conhecida como eletrocoagulação, foi apresentada pela engenheira agrônoma Kiane Cristina Leal Visconcin, que é mestranda da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade de Campinas (Unicamp).
A eletrocoagulação consiste em usar uma fonte de corrente elétrica contínua a partir de um par de eletrodos, que pode ser de alumínio ou ferro. “Quando colocamos os eletrodos no efluente, eles são oxidados, provocando reações físico-químicas que geram um processo de cogulação dos poluentes que estão no efluente”, diz Kiane. Ainda segundo ela, no caso da manipueira, a experiência mostrou que os coágulos formados passam por um processo de flotação em direção à parte superior do efluente, de onde o resíduo, que é uma espécie de lodo, pode ser retirado.
Processo de eletrocoagulação faz com que resíduos flutuem para a parte de cima do reservatório e se separem do efluente
REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS
A segunda parte do dia de campo tratou da possibilidade de reaproveitamento dos resíduos sólidos gerados na produção, como cascas, ramas e a massa de mandioca, além do lodo do sistema de tratamento. Os produtores viram que esses resíduos podem ser usados na nutrição de animais, como suínos e bovinos, em substituição ao milho, o que gera economia e permite a destinação ambientalmente adequada do material que seria descartado.
Conforme o professor do Departamento de Zootecnia do Instituto Federal do Sul de Minas, Gusthavo Ribeiro Vaz da Costa, todos os resíduos da cadeia polvilheira têm potencial para substituição parcial e, às vezes, até total do milho. “A massa e a raspa da mandioca eles já fornecem para os animais, porém, com caráter de baixa produtividade. Já o lodo não tem sido usado para alimentação animal. Eu fiz uma projeção para mostrar as análises nutricionais daqueles resíduos, mostrando que é possível substituir o milho de forma parcial ou até total, de acordo com o tipo do animal e o desempenho que se espera dele. Com essa atividade, os produtores começaram a entender que o resíduo tem um grande potencial, inclusive para comercialização”, afirma o especialista.
Segundo o superintendente de Fiscalização da Semad, Flávio Aquino, o dia de campo fortalece as orientações dadas nos workshops de setembro e facilita a compreensão por parte dos produtores. “Com essa demonstração, ficou evidente que existem alternativas mais baratas, acessíveis e de melhor ajuste operacional para a produção, transformando aquilo que antes era problema em solução, levando as empresas a um cenário de maior sustentabilidade dos negócios”, afirma Aquino.
Para a presidente da Associação dos Produtores Rurais e Agroindústria de Conceição dos Ouros, Dorothy Campos da Fonseca, a iniciativa foi muito importante porque trouxe uma explicação seguida de uma experiência prática. “O dia de campo fortalece muito o nosso trabalho da adequação ambiental. Acredito que vamos ter ótimos resultados. Uma coisa que achei especialmente interessante foi essa alternativa para utilização do subproduto com os animais, isso vai nos ajudar muito”, afirma.
SUCESSO NA INDÚSTRIA
O planejamento do Fapa segue os moldes do que já acontece com a Fiscalização Ambiental Preventiva na Indústria (Fapi). Primeiro são realizados os workshops de orientação, que podem ser complementados pelo dia de campo, como aconteceu nesta sexta-feira no Sul de Minas. Em seguida, é feito o trabalho de fiscalização, que normalmente encontra uma situação bem melhor do ponto de vista da adequação ambiental do que em empreendimentos que não tiveram a etapa educativa.
No caso do Fapi, por exemplo, nas três primeiras edições foram realizados 38 workshops de orientação e mais de 3.400 fiscalizações, com constatação de infração em apenas 3% destas. Quando a fiscalização é feita fora da lógica orientativa do programa, esse índice de infrações sobe para 24,5%, de acordo com dados gerados a partir do trabalho da Semad e da Polícia Militar, o que comprova a importância da aproximação do poder público com o setor produtivo para nortear o desenvolvimento sustentável. A previsão é que a primeira rodada de fiscalizações dentro do Fapa ocorra em março do ano que vem.
Guilherme Paranaiba
Ascom/Sisema