Unidades de conservação mineiras são santuário para as águas

Notícia

Qua, 23 mar 2016


 

Na semana em que se comemora o Dia Mundial da Água, falar sobre a conservação de recursos hídricos como aliado das unidades de conservação é fundamental. Minas Gerais tem diferentes exemplos da importância dessas áreas. O abastecimento da população de cidades inteiras é garantido por nascentes e mananciais localizados no interior dessas reservas ambientais.

 

“Proteger nascentes e mananciais é uma das diversas funções de Parques, Reservas Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental, dentre outras áreas de proteção do tipo”, afirma o diretor de Unidades de Conservação do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Henri Dubois Collet. Em Minas Gerais, existem 93 unidades de conservação de diferentes categorias que garantem a proteção de quase 2,5 milhões de hectares nos três biomas existentes no Estado: Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga.

 

A região do Barreiro, uma das mais importantes de Belo Horizonte, é abastecida por águas que nascem no Parque Estadual da Serra do Rola-Moça. Mesmo caso de Montes Claros, no Norte do Estado, onde cerca de 30% da população do município recebe águas que nascem no interior no Parque Estadual da Lapa Grande. Em Ouro Preto e Mariana, no Quadriláterro Ferrífero, o Parque Estadual do Itacolomi, abriga nascentes que contribuem para a formação de duas bacias hidrográficas: a do São Francisco (rio da Velhas) e do rio Doce.

 

No Leste Mineiro, a população da cidade de Resplendor passou momentos de apreensão quando a captação de água no rio Doce foi suspensa depois que a lama proveniente da barragem Fundão, em Mariana, atingiu a região, em novembro de 2015. O córrego Barroso, que passa no interior do Parque Estadual de Sete Salões, se tornou fonte de água para o município. As águas que nascem na unidade de conservação abastecem ainda o povoado de Aldeamento, em Santa Rita do Ituêto, com o córrego Boa Esperança, e o povoado de São Roque, em Conselheiro Pena, com o córrego Boa Vista.

 

Ambientes únicos

 

A lagoa do Sumidouro, em Lagoa Santa, quando cheia, é a porção de água mais expressiva do Parque Estadual de mesmo nome, e pode atingir cerca de oito quilômetros de perímetro. Desde o final de 2012, foram poucas as chuvas na região, o que tem contribuiu com o seu esvaziamento, permanecendo em seu leito apenas o córrego Samambaia, que drena para a gruta existente sob a Lapa do Sumidouro e, depois, se encaminha abaixo do solo para o rio das Velhas. “Com as chuvas iniciadas no final de 2015, a lagoa vem recuperando suas águas”, explica o gerente do Parque, Rogério Tavares de Oliveira.

 

O fenômeno de cheia e seca da lagoa é natural e histórico, devendo-se à localização em um relevo chamado cárstico e a variações climáticas com secas prolongadas. O Parque Estadual do Sumidouro protege esse tipo raro de relevo que é formado pela ação da água na dissolução de certos tipos de rochas como o calcário, o que propicia o aparecimento de cavernas, sumidouros, dolinas e lagoas como a do Sumidouro. “Esses subterrâneos de água, os chamados aquíferos, se comunicam com as águas dos córregos, lagoas e rios na região, indo ao encontro do rio das Velhas”, afirma Rogério Tavares.

 

No Leste Mineiro, o Parque Estadual do Rio Doce está inserido em um complexo lacustre de cerca de 300 lagoas e abriga 42 deles. Essa característica singular conferiu-lhe em 2010, o título de Sítio Ramsar do Brasil, categoria internacional de áreas úmidas dada por uma convenção da Unesco para áreas que protegem parte de sua biodiversidade em ambientes úmidos.

“Os lagos que constituem uma riqueza única do Parque foram formados a partir dos tributários do rio Doce que muito tempo atrás cruzava a unidade de conservação e que, atualmente, apenas margeia a unidade de conservação em sua porção norte”, explica o gerente do Parque, Vinicius de Assis Moreira. Dentre eles, destaca-se a lagoa Dom Helvécio, com seus 750 hectares de espelho d’água margeados por uma rica e preservada Mata Atlântica.

 
Foto: Evandro Rodney

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Recuperação

 

A recuperação de áreas importantes para a biodiversidade também é necessária para garantir a recuperação de nascentes. “As equipes que trabalham nas unidades de conservação realizam trabalhos no seu interior e também nas áreas próximas, junto aos proprietários rurais”, explica o diretor de Unidades de Conservação do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Henri Dubois Collet.

O Parque Estadual Serra Verde está localizado no vetor norte da cidade de Belo Horizonte e abriga 24 nascentes que dão origem ao córrego Floresta, que deságua no rio das Velhas. “Preservar esta área ao longo dos anos tem sido um desafio, pois grande parte dos topos da serra estão tomados por capins invasores, e consequentemente, os incêndios são recorrentes”, afirma André Portugal Santana, gerente do Parque.

 

“Uma área sem vegetação prejudica as nascentes do Parque, já que a água escorre sem se infiltrar no solo”, explica Santana. “Projetos de prevenção e combate aos incêndios, a recuperação da cobertura vegetal e um mês de janeiro que atingiu a média de chuva, favoreceram nossas águas este ano”, completa. Um exemplo é a nascente que fica localizada na trilha Curiango que voltou a jorrar água depois de três anos.

 

Na região do Alto Jequitinhonha, nos municípios de Santo Antônio do Itambé, Serro e Serra Azul de Minas onde está inserido, o Parque Estadual do Pico do Itambé tem realizado um trabalho de preservação de nascentes nas áreas próximas ao Parque. Em novembro de 2015 um grande incêndio florestal atingiu mais cerca de mil hectares dentro da unidade de conservação e mais de quatro mil no seu entorno, dentro da Área de Proteção Ambiental das Águas Vertentes.

 

Várias nascentes foram atingidas e ameaçadas e outras até extintas e, a equipe do Parque está recuperando algumas nascentes em parceria com proprietários das áreas atingidas e está fazendo o plantio de mudas as Áreas de Preservação Permanente (APPs). Essas nascentes alimentam várias comunidades da região do distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras, do município de Serro, que vertem para a bacia do Rio Jequitinhonha.

 

Ascom/Sisema